15 de julho de 2010

Cinema Paradiso


[Obs.:esse post contem spoilers]


Frio e férias, uma boa combinação. Cenário perfeito para pegar um cobertor bem quentinho e ir para o sofá comer porcaria e ver um bom filme. O escolhido da vez foi Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso), um filme italiano de 1988 dirigido por Giuseppe Tornatore.

Premiado diversas vezes, o filme conta a história de Salvatore, renomado cineasta cinquentão, que ao receber um telefonema de sua mãe, a qual ele não visitava havia trinta anos, avisando que Alfredo havia morrido, passa a recordar passagens de sua infância e juventude e então retorna a sua antiga cidade para o velório. Alfredo era o projetista do cinema da pequena cidade, o Cinema Paradiso. Salvatore, na época chamado por todos de Totó, era uma criança inquieta, curiosa e, principalmente, apaixonada pelo cinema. Muito danado, ele sempre dava um jeito de entrar na sala de projeção, para desespero de Alfredo que, após um acidente que destrói o antigo cinema, fica cego e, portanto, é impedido de continuar exercendo seu trabalho. Em seu lugar, Totó passa a projetar os filmes no Nuovo Cinema Paradiso, mas sempre com Alfredo a seu lado para lhe aconselhar acerca do ofício e também sobre sua vida e seus sonhos de jovem. Após algumas reviravoltas, Totó, agora já crescido, parte para Roma com um dos conselhos de Alfredo em mente: que ele nunca mais retornasse para aquela cidade que não lhe oferecia boas oportunidades.

A intenção do diretor, certa vez ele disse, era mostrar o fim das tradicionais salas de cinema que foram substituídas por um novo modelo que segue a lógica da grande indústria cinematográfica. Alcança seu objetivo brilhantemente com um filme muito simples e, exatamente por isso, tão sincero e tocante. E muito mais além, ele consegue retratar a amizade do garoto Totó e Alfredo de forma muito espontânea, eu diria quase que crua, o que a torna algo muito bonito de se acompanhar no decorrer do filme.

O antigo cinema Paradiso, agora em ruínas, foi comprado pela prefeitura da pequena cidade e ia ser demolido para que construíssem um estacionamento. Essa cena é muito emblemática. Totó entra na pequena multidão de curiosos que estava na praça localizada em frente o cinema no dia da demolição. Ali ele reconhece alguns poucos rostos familiares que lhe acompanharam enquanto jovem na rotina do cinema. Todos fitam aquele prédio muito velho e se emocionam. Imagino que se recordavam de tudo e de todos que por lá passaram - que é o que nós, espectadores, assistimos no decorrer do filme. Uma explosão e, enfim, o cinema é implodido. De forma violenta vai ao chão a tradicional sala de cinema; misturados ao pó e cimento, lá se vão os projetores e rolos de filmes; embaixo da terra, Alfredo também a virar pó; ao chão, abaixo, junto aos tijolos, a expressão concreta das lembranças e vivências daqueles que, emocionados, viam o antigo abrir espaço para o 'dito' progresso.

Trailer


Um comentário:

  1. É triste como algumas coisas não conseguem sobreviver ao poder do avanço tecnológico-industrial... Não que a ideia do cinema como era antigamente deva ser seguida à risca - acho que ninguém iria se arrumar e sair de casa pra ver jornal nacional ou ver um filme que pode baixar no conforto da sua cadeira de computador -, mas o prazer de se reunir com quem se gosta para ver -ou não - um bom filme, comendo alguma coisa, é um valor que não deveria ser destruído. Infelizmente, esse filme mostra a realidade de muitas outras tradições que estão perto de encontrar seu fim antes do que deveriam. Embora imagino que com pessoas que se prezam a cuidar dos patrimônios culturais - alô, historiadora! - há esperança que algumas delas se preservem, pelo menos aos que se interessam por elas.

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