25 de agosto de 2010

Imagem e Semelhança


Deus diz:
"Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança."
(Gênesis 1:26)

Aristóteles diz:
"Assim como os homens representam os deuses à sua imagem, também supõem-lhes uma vida semelhante."
(Política, I)

20 de agosto de 2010

"Nada se cria, tudo se copia"

Hoje estava lendo D. Quixote quando me deparei com a seguinte nota de rodapé:

"Personagens da Odisséia de Homero. A ninfa Calipso apaixonou-se por Ulisses e o reteve por sete anos; e Circe transformou em porcos a tripulação de Ulisses."

Isso me soou familiar. Claro que fui pesquisar em fontes bastante confiáveis (wikipedia) mais sobre essas personagens. E, enquanto lia, algo me dizia que eu já tinha visto esse filme...
Filme! É isso! Sou só eu que acho isso ou a história da maldição de Davy Jones no Piratas do Caribe trata exatamente disso? (voltando à minha fonte super confiável descobri que essa lenda do Davy Jones é bem mais antiga que eu pensava)

E tudo isso me fez pensar em Maquiavel, que dizia que os homens deveriam aprender com os erros do passado e se espelharem nos bons exemplos dados, principalmente, pelos Antigos. E dizia isso baseado nos próprios: já dizia Cícero que historia magistra vitae, a História é mestra da vida. E eu, dois mil e cem anos depois de Cícero, citando Chacrinha no título do post, tento fazer o mesmo.

Ora veja, quanta pretensão a minha! Ah, mas se o Piratas do Caribe pode, por que eu não?


16 de agosto de 2010

Pipocas Maias









Babylon - Zeca Baleiro



baby i'm so alone
vamos pra babylon
viver a pão-de-ló e moet chandon
vamos pra babylon
vamos pra babylon

gozar sem se preocupar com amanhã
vamos pra babylon
baby baby babylon

comprar o que houver au revoir ralé
finesse s'il vous plait mon dieu je t'aime glamour
manhattan by night
passear de iate nos mares do pacífico sul

baby i'm alive like a rolling stone
vamos pra babylon
vida é um souvenir made in hong kong
vamos pra babylon
vamos pra babylon

vem ser feliz ao lado desse bon vivant
vamos pra babylon
baby baby babylon

de tudo provar champanhe caviar
scotch escargot rayban bye bye miserê
kaya now to me o céu seja aqui
minha religião é o prazer

não tenho dinheiro pra pagar a minha ioga
não tenho dinheiro pra bancar a minha droga
eu não tenho renda pra descolar a merenda
cansei de ser duro vou botar minh'alma à venda
eu não tenho grana pra sair com o meu broto
eu não compro roupa por isso que eu ando roto
nada vem de graça nem o pão nem a cachaça
Quero ser caçador ando cansado de ser caça

Ai morena viver é bom, esquece as penas vem morar comigo em Babylon

26 de julho de 2010

Metrô


Pegava todos os dias o metrô. Durante um período, costumava descer na estação Paraíso. Achava uma estação agradável e ali parecia ser seu lugar. Mas, com o tempo, essa estação começou a tomar ares de artificial, nada mais era o que antes parecia ser. Depois dessa epifania, começou a descer na Consolação. Era uma estação triste, as pessoas a seu redor vagavam pesarosas. Vagava junto. Até que um dia, de repente, notou uma estação que não conhecia. Parecia ser um lugar agradável e pessoas interessantes desciam nela. Foi nesse dia que conheceu a estação Liberdade e, desde então, não sai mais de lá.

15 de julho de 2010

Briga de Casal

Final de tarde. Os dois caminhavam pelas calçadas esburacadas da cidade.
- Você me tira do sério! - ele acusa.
- Você poderia ser um pouco mais tolerante para variar, sabia?
Acostumada com as discussões, ela passa a mão calmamente por seus cabelos e continua:
- Vamos esquecer tudo que aconteceu e começar de novo, o que acha?
- Não, simplesmente não dá! Como espera que eu desconsidere o que já passou? Não dá! - ele refuta.
- Talvez se você se esforçar um pouquinho e...
- Não! Isso aqui, esse relacionamento, o que temos hoje, é resultado de tudo o que vivemos!
- Depende de como você vê as coisas...sempre é possível relativizar...
- Lá vem você com essa de novo...
- Você tem que desconstruir certas imagens... É totalmente plausível aceitar várias posições como sendo o correto...Não precisamos de um esquema fixo de representação...
Ele suspira revirando os olhos. Uma veia pulsa em sua têmpora.
- Isso é só discurso! Nós dois sabemos que você é uma individualista!
- Não é verdade... Eu me preocupo com o bem de todos... E me preocupo com o bem de nós dois...
- Mentira! Suas ações demonstram uma pessoa hedonista e consumista! - ele realmente sai do sério - Eu não te compreendo! Simplesmente não te entendo! Sua...sua...pós-moderna!
Agora sim, partiu-lhe o coração.

Cinema Paradiso


[Obs.:esse post contem spoilers]


Frio e férias, uma boa combinação. Cenário perfeito para pegar um cobertor bem quentinho e ir para o sofá comer porcaria e ver um bom filme. O escolhido da vez foi Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso), um filme italiano de 1988 dirigido por Giuseppe Tornatore.

Premiado diversas vezes, o filme conta a história de Salvatore, renomado cineasta cinquentão, que ao receber um telefonema de sua mãe, a qual ele não visitava havia trinta anos, avisando que Alfredo havia morrido, passa a recordar passagens de sua infância e juventude e então retorna a sua antiga cidade para o velório. Alfredo era o projetista do cinema da pequena cidade, o Cinema Paradiso. Salvatore, na época chamado por todos de Totó, era uma criança inquieta, curiosa e, principalmente, apaixonada pelo cinema. Muito danado, ele sempre dava um jeito de entrar na sala de projeção, para desespero de Alfredo que, após um acidente que destrói o antigo cinema, fica cego e, portanto, é impedido de continuar exercendo seu trabalho. Em seu lugar, Totó passa a projetar os filmes no Nuovo Cinema Paradiso, mas sempre com Alfredo a seu lado para lhe aconselhar acerca do ofício e também sobre sua vida e seus sonhos de jovem. Após algumas reviravoltas, Totó, agora já crescido, parte para Roma com um dos conselhos de Alfredo em mente: que ele nunca mais retornasse para aquela cidade que não lhe oferecia boas oportunidades.

A intenção do diretor, certa vez ele disse, era mostrar o fim das tradicionais salas de cinema que foram substituídas por um novo modelo que segue a lógica da grande indústria cinematográfica. Alcança seu objetivo brilhantemente com um filme muito simples e, exatamente por isso, tão sincero e tocante. E muito mais além, ele consegue retratar a amizade do garoto Totó e Alfredo de forma muito espontânea, eu diria quase que crua, o que a torna algo muito bonito de se acompanhar no decorrer do filme.

O antigo cinema Paradiso, agora em ruínas, foi comprado pela prefeitura da pequena cidade e ia ser demolido para que construíssem um estacionamento. Essa cena é muito emblemática. Totó entra na pequena multidão de curiosos que estava na praça localizada em frente o cinema no dia da demolição. Ali ele reconhece alguns poucos rostos familiares que lhe acompanharam enquanto jovem na rotina do cinema. Todos fitam aquele prédio muito velho e se emocionam. Imagino que se recordavam de tudo e de todos que por lá passaram - que é o que nós, espectadores, assistimos no decorrer do filme. Uma explosão e, enfim, o cinema é implodido. De forma violenta vai ao chão a tradicional sala de cinema; misturados ao pó e cimento, lá se vão os projetores e rolos de filmes; embaixo da terra, Alfredo também a virar pó; ao chão, abaixo, junto aos tijolos, a expressão concreta das lembranças e vivências daqueles que, emocionados, viam o antigo abrir espaço para o 'dito' progresso.

Trailer


11 de julho de 2010

Metalinguístico

Procrastinar:
transferir para outro dia ou deixar para depois; adiar, delongar, postergar, protrair
(Houaiss)

Faz um certo tempo que venho cultivando a minha vontade de começar um blog. Desde então milhares de ideias para posts encheram minha inquieta mente. A inspiração surgia no meio de uma aula de Medieval I, ao escutar uma conversa no ponto de ônibus, lendo um texto interessante ou simplesmente surgia do nada. Eu tinha os assuntos, sabia o que e como escrever, mas havia também um pequeno problema: o primeiro post do blog. Pensei muito e não conseguia achar o começo ideal. Se quer saber, sempre tive problemas com o início. Lembro-me de ficar encarando a folha em branco um bocado de tempo antes de iniciar minhas redações nos meus tempos de escola. Atualmente, na universidade, a situação não é muito diferente e é por isso que sempre inicio meus trabalhos pelo desenvolvimento, pulo pra conclusão e só então me arrisco na introdução. Mas enfim, nessa minha epopeia na busca do começo perfeito acabei percebendo que não importa o quando eu pense, simplesmente não será o ideal e que estava na hora de acabar com a procrastinação, minha especialidade, por sinal.
Devo mencionar também que, antes da epopeia acima citada, houve também o processo em-busca-do-nome-perfeito: queria que o blog se chamasse piparote. Desde que conheci essa palavra - Machado de Assis apresentou-a a mim - passei a gostar muito dela. É tão sonora, rápida, impactante, tal como um verdadeiro piparote no meio da testa. Incrível como certas palavras são tão legais! Voltando, quando fui criar o endereço descobri que já estava sendo utilizado. Então comecei a tentar adjetivar meu piparote, mas foi em vão... Um tanto quanto frustrada com meu insucesso, resolvi trasformar meu piparote em verbo. Piparotear. Achei que soou simpático. Pronto, que seja piparotear.
Nas próximas postagens pretendo escrever sobre tudo que der na telha, as mais diversas discussões, sejam elas interessantes ou não, façam sentido ou não. O mais importante é escrever, hábito que deixei de lado há algum tempo e que quero voltar a desenvolver.
E aqui, nesse post um tanto quanto metalinguistico, vai ficando minha estreia como blogueira.

"A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me a tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus" (Memórias Póstumas de Brás Cubas)


[Escutando:
O Meio - Luiz Tatit]